quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

"Deitada ali sozinha em meio a meus devaneios abstratos, ocorreu-me de repente um verso. Tateei com urgência minha cama em busca de uma caneta e um caderno que sempre ficavam ali para o caso de meus delírios escorrem por meio de palavras que, estranhamente, nunca eram ditas, apenas escritas. Logo me perdi outra vez em pensamentos e o verso que me invadira, fugiu por entre as brechas irreparáveis de mim. Eu deixava muita coisa passar, sabe? Havia coisas que guardava no ínfimo de mim que, por Deus!, só eu podia chegar até elas. Mas a viagem era um tanto cansativa, acidentada, perigosa e ao chegar lá o lugar era absolutamente inóspito. Então eu fazia raras as viagens a este canto de Minh’ alma. Já a parte de mim que não era digna de qualquer bom olhar - mesmo que de soslaio – ficava exposta, na superfície de meu ser me fazendo parecer uma piscina rasa quando na verdade eu era imensidão, oceano. Mas talvez esse âmago de mim que você pode acreditar não existir preferisse mergulhar tão fundo assim em meu interior para manter-se protegido, aquecer-se longe do frio da superfície e adormecer, hibernar num inverno que mais parece eterno até que chegue a primavera para despertá-lo. Talvez a primavera fosse alguém, talvez alguma coisa, um olhar, um sorriso, um toque, um acontecimento, um pensamento, um flerte, um afago, um amor, uma amizade. Talvez a primavera também estivesse bem escondida ali numa parte de mim… Como era grande a minha capacidade de devanear! Mas enfim, não era mesmo um verso assim tão bom."
Luna

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